Afinal qual o propósito da vida?
E ao rever o filme "As Confissões de Schmidt", homem que acabara de se reformar, casado durante 42 anos, que entretanto enviuvara e à beira do casamento da sua filha em que não aprovava o seu futuro genro, deu-se conta do vazio que estava à sua frente; do que afinal sobrou da sua vida.
E nessa procura incessante de respostas, na solidão, raiva e amargura , tentou ir à procura de quem era, nos lugares do passado, onde tinha ficado.
Não havia propriamente respostas. Havia perguntas para as quais não tinha resposta.
E isto faz-me pensar, que muitas vezes, nos damos conta da pergunta; " Afinal porque é que andamos cá?" O que significou a nossa passagem enquanto estamos vivos?"
Podemos fazer essa pergunta enquanto ainda mantemos uma vida laboral ativa, temos coisas para fazer, sítios para estar, horas e prazos para cumprir. Mas poucas vezes, conseguimos debruçarmos de forma reflexiva e tentar responder a essas questões.
Outras, só nos damos permissão para fazer essas perguntas, quando nos encontramos numa fase final da vida, em que olhamos para trás, e ao fim ao cabo, damos conta, que não conquistámos assim nada de especial, e nos resta apenas um vazio e assumir o final da nossa existência.
Só mesmo quando chegamos a velhos, e que parece que a vida nos tira tudo, e nos puxa o tapete, e em vez de usufruirmos os louros da vida, damos conta afinal do que fomos, do que somos, de que somos feitos.
Mas ao longo de todo este percurso de Schmidt, houve algo que fez, com uma certa ligeireza, e pouco consciente, diria eu, que lhe permitiu saborear no fim a sua essência.
Tal facto, deveu-se à inscrição num programa de televisão no apadrinhamento de uma criança, talvez de África, na ajuda dos seus estudos e medicação. Nesse projeto, pediam que escrevesse à criança que patrocinava, para o conhecer melhor.
E no seu mundo de procura, resolveu começar-lhe a escrever, contanto todas as peripécias que vivia no agora, todas as inseguranças, amarguras e revezes da vida.
Depois de muitas cartas escritas ao menino e de viagens pelo mundo fora na sua "camioneta de turismo", um dia chega a casa e recebe uma carta: era do Menino.
Nos últimos pensamentos e reflexões de vida de Schmidt, antes de abrir a carta, deu-se conta que falhara. Falhara na vida.
Deu-se conta que somos nada, no grande panorama da vida e a única coisa que podemos fazer é a diferença na vida de alguém.
Diz ainda : " Que diferença fiz de forma a que o mundo se tornasse melhor? " " Nenhuma" ( responde para si)
E continua : "Sou um fraco e um falhanço. Em breve vou morrer, talvez daqui a 20 anos, talvez amanhã, não interessa. " Depois de morto, os outros que me conhecem também vão morrer, e então será como se não tivesse existido."
"Que diferença fez a minha vida na vida de alguém? Nada, nada que me consiga lembrar."
E aí ao abrir uma carta lê as palavras de uma freira que escrevera em nome do menino Ndugu.
Nelas descreve que Ndugu tem 6 anos, ainda não sabe ler nem escrever e que teve uma infeção na vista, mas que já está melhor. Diz ainda, pelas palavras de Ndugu que ele lembra-se dele todos os dias e que lhe deseja toda a felicidade, mas como ainda não sabe escrever, deixa-lhe um desenho. Desenho esse que o emociona.
E sim, ele acabou por fazer a diferença na vida de alguém.
Por isso acho que, na pequenez da nossa vida, se fizermos a diferença para melhor na vida de alguém, mesmo com atos pequenos ou grandes, já valeu a pena a nossa existência.
Aqui fica o desenho.