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Às vezes tenho pena

por Helena, em 01.12.23

das pessoas que vêm do trabalho, à noite, fustigadas pela chuva, pelo cansaço que carregam nos ombros e na  alma. Olho-as pela janela e vejo-as ao longe. Às vezes cruzo-me com elas na rua.

A chuva e o vento não dão tréguas. 

Chapéus com varetas dobradas e até partidas, casacos ensopados e cabelos húmidos. Caras molhadas como se tivessem estado a chorar.

Filas intermináveis de carros, engarrafamentos, com a esperança de chegarem a casa freneticamente, numa luta inglória entre o tempo. Submissos, a vida troca-lhes as voltas e não têm senão outro remédio que esperar  a sua vez. Olham por entre os vidros a chuva bater,  e observam com a sua vista baça  os carros da frente por entre o vaivém do parabrisas.

Quem vem de camioneta, também não vem melhor, de pé, com dores nas costas a carregar uma mochila atulhada de livros ou de sacos, depois de um dia compridíssimo que parece não ter mais fim....

Sem lugar para se sentar, à espera que um velho salte do banco para sair e descansar um pouco...

 Enquanto isso, no meio do trânsito infernal, entre o pára, arranca da camioneta, os movimentos dos corpos vai balançando para cá e para lá...

Quem vem de comboio, viaja igual, se bem que quem sai da camioneta e de seguida ainda tem que apanhar o comboio, e o avista já perto, tenta a sua sorte, e o cansaço que pesava anteriormente, desaparece por momentos, e  entre passadas enérgicas, sobem dois e três lanços de escadas  de uma só vez...  para chegar à paragem ansiada.

Quando entram jogam o jogo das cadeiras, quem apanhou lugar, apanhou, quem não apanhou, segura-se no varão e lá vai balançando com o movimento oscilante do comboio.

A noite intimida o dia, é o seu reverso, é a hora de chegar.

Chegar a casa. Chegar a casa torna-se a peripécia mais esperada do final do dia.

A noite torna-se inconviniente, rude, ríspida, indelicada para todos os que carregam na alma o peso dos dias no final de um dia de trabalho.

A noite expulsa-nos e convida-nos a ir para casa e a regrassar à luz  das nossas casas e também de quem lá nos espera.

 

 

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